Pesquisar este blog

17 de dez. de 2011

TRADUZIR-SE

 
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
... fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar

in Na Vertigem do Dia (1975-1980)

Nenhum comentário:

Postar um comentário