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5 de jul. de 2012
O PESO QUE A GENTE LEVA.
O perigo da viagem mora nas malas.
Elas podem nos impedir de apreciar
a beleza que nos espera.
Experimento na carne a verdade das
palavras, mas não aprendo.
Minhas malas são sempre superiores
às minhas necessidades.
É por isso que minhas partidas e
chegadas são mais penosas do que
deveriam.
Ando pensando sobre as malas
que levamos...
Elas são expressões dos nossos
medos.
Elas representam nossas
inseguranças.
Olho para o viajante com suas
imensas bagagens e fico curioso
para saber o que há dentro das
estruturas etiquetadas.
Tudo o que ele leva está diretamente
ligado ao medo de necessitar.
Roupas diversas; de frio, de calor
o clima pode mudar a qualquer
momento!
Remédios, segredos, livros, chinelos,
guarda-chuva - e se chover?
Cremes, sabonetes, ferro - elétrico -
isso mesmo!
Microondas? - Comunique-me, por
favor, se alguém já ousou levar.
O fato é que elas representam
nossas inseguranças.
Digo por mim. Sempre que saio
de casa levo comigo a pretensão
de deslocar o meu mundo.
Tenho medo do que vou enfrentar.
Quero fazer caber no pequeno
espaço a totalidade dos meus
significados.
As justificativas são racionais.
Correspondem às regras do bom
senso, preocupações naturais para
quem não gosta de viver privações.
Nós nos justificamos.
Posso precisar disso, porque
preciso daquilo...
Olho ao meu redor e descubro
que as coisas que quero levar
não podem ser levadas.
Excedem aos tamanhos permitidos.
Já imaginou chegar ao aeroporto
carregando o colchão para ser
despachado?
As perguntas são muitas...
E se eu tiver vontade de
ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver
de vez em quando, como se
fosse a primeira vez?
Desisto. Jogo o que posso no
espaço delimitado para a minha
partida e vou.
Vez em quando me recordo de
alguma coisa esquecida, ou então,
inevitavelmente concluo que mais
da metade do que levei não me
serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que
partir é experiência inevitável
de sofrer ausências.
E nisso mora o encanto da viagem.
Viajar é descobrir o mundo que
não temos.
É o tempo de sofrer a ausência que
nos ajuda a mensurar o valor do
mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que
levou o poeta cantar:
"Bom é partir; Bom mesmo é
poder voltar"
Ele tinha razão.
A partida nos abre os olhos para
o que deixamos.
A distância nos permite mensurar
os espaços deixados.
Por isso, partidas e chegadas são
instrumentos que nos indicam quem
somos, o que amamos e o que é
essencial para que a gente continue
sendo.
Ao ver o mundo que não é meu eu
me reencontro com desejo de amar
ainda mais o meu território.
É consequência natural que faz o
coração querer voltar ao ponto
inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz
do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas
regras.
Os excessos nos pesam e nos retiram
a vontade de viver.
Por isso é tão necessário, partir, sair
na direção das realidades que nos
ausentam.
Lugares e pessoas que não pertencem
ao contexto de nossas lamúrias...
Hospitais, Asilos, Internatos...
Ver o sofrimento de perto, tocar na
ferida que não dói na nossa carne, mas
que de alguma maneira pode nos
humanizar.
Andar na direção do outro é também
fazer uma viagem.
Mas não leve muita coisa não tenha medo
das ausências que sentirá.
Ao adentrar o território alheio, quem
sabe assim os seus olhos se abram para
enxergar de um jeito novo o território
que é seu.
Não leve os seus pesos.
Eles não lhes permitirão
encontrar o outro.
Viaje leve, leve, bem leve.
Mas se leve.
(Padre Fábio de Melo)
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